(Foto: Ricardo Guimarães - Diário da CPTM)
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– A senhora não pode beber dentro da estação.
– Ah, o senhor me desculpe, eu não sabia. Estou terminando e já jogo a lata fora.
Ele cruzou os braços diante de mim e ergueu o queixo, como
que chamando para um duelo. Adiante, vi seus colegas na ponta da plataforma.
Olhavam o rio entediados, meio sonolentos, aguardando o fim do expediente, mas
não o homenzinho, esse queria mostrar serviço.
– A senhora vai jogar a lata fora agora! – Disse, aumentando
o tom.O homenzinho cresceu dentro de sua farda azul e pintou as bochechas de vermelho.
– Não vou jogar fora, comprei e vou beber. – respondi.
Ele se aproximou e tentou levar a lata na mão grande, dei
um olé no ar e ele apertou o vazio. – Olha, eu não deveria ter entrado com a lata, mas já que entrei, me diga, a quem eu prejudico terminando de tomar esses dois goles de cerveja quente?
– Não pode! Joga a lata no lixo agora! – Disse indignado.
Mesmo falando alto e quase mostrando os dentes, seus
colegas não nos deram nenhuma atenção, em meio aos bocejos, continuaram com os
olhos do rio.– No regulamento da CPTM está escrito que é proibido consumir bebida alcoólica nas estações!
– O senhor vai me desculpar, mas apenas passo a catraca e entro no vagão, não leio nenhum manual do trem.
– Ou joga a lata fora, ou...
Finalmente o trem chegou, pensei. Larguei o homenzinho e
suas ameaças. Sentei-me num dos bancos, e antes de sorver o último gole ergui a
lata e fiz um brinde em sua homenagem.
– Adeus guardião da CPTM!
Angelina Miranda é jornalista e escritora sem livros.
Ri alto, é fã de jabuticaba, cachorro, botecos e maus modos.
Dá uns pitacos pelo Feici e faz uns versos no Poesias Angelinas
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