quinta-feira, 18 de julho de 2013

O dia em que conheci o guardião da CPTM


(Foto: Ricardo Guimarães - Diário da CPTM)
Era por volta de 23h. Estava aproveitando os últimos goles de cerveja à espera do trem, que, como de costume, tardou a chegar. De repente, surgiu um homenzinho de baixa estatura, levemente pançudo com cara de poucos amigos.
– A senhora não pode beber dentro da estação.

– Ah, o senhor me desculpe, eu não sabia. Estou terminando e já jogo a lata fora.

Ele cruzou os braços diante de mim e ergueu o queixo, como que chamando para um duelo. Adiante, vi seus colegas na ponta da plataforma. Olhavam o rio entediados, meio sonolentos, aguardando o fim do expediente, mas não o homenzinho, esse queria mostrar serviço.
– A senhora vai jogar a lata fora agora! – Disse, aumentando o tom.

O homenzinho cresceu dentro de sua farda azul e pintou as bochechas de vermelho.

– Não vou jogar fora, comprei e vou beber. – respondi.
Ele se aproximou e tentou levar a lata na mão grande, dei um olé no ar e ele apertou o vazio.

– Olha, eu não deveria ter entrado com a lata, mas já que entrei, me diga, a quem eu prejudico terminando de tomar esses dois goles de cerveja quente?

– Não pode! Joga a lata no lixo agora! – Disse indignado.
Mesmo falando alto e quase mostrando os dentes, seus colegas não nos deram nenhuma atenção, em meio aos bocejos, continuaram com os olhos do rio.

– No regulamento da CPTM está escrito que é proibido consumir bebida alcoólica nas estações!

– O senhor vai me desculpar, mas apenas passo a catraca e entro no vagão, não leio nenhum manual do trem.

– Ou joga a lata fora, ou...
Finalmente o trem chegou, pensei. Larguei o homenzinho e suas ameaças. Sentei-me num dos bancos, e antes de sorver o último gole ergui a lata e fiz um brinde em sua homenagem.

– Adeus guardião da CPTM!


Angelina Miranda é jornalista e escritora sem livros.
Ri alto, é fã de jabuticaba, cachorro, botecos e maus modos.
Dá uns pitacos pelo Feici e faz uns versos no Poesias Angelinas

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