Nascido em Paris, Sponville tem grande influência
de nomes como Sartre e Dostoievski.
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‘Adulto’, por exemplo, na maioria das vezes, é utilizado apenas para distinguir os pequenos dos grandes, uma ponte que divide o aparente abismo que há entre o que é ser criança e adulto, mas parece que o rio não é tão raso assim.
“Adulto: Aquele cujo corpo deixou de crescer – que já não pode crescer, a não ser por meio da alma. É ser fiel à infância, recusando-se a encerrar-se nela. Porque todas as crianças querem crescer. O infantilismo é uma doença de velhos”.
André Comte-Sponville no seu “Dicionário Filosófico”, vai muito além das definições frias e objetivas a que estamos acostumados a ler nos Aurélios por aí. De maneira meticulosa, ele pensa a língua, investiga a palavra, revelando origem e essência, tantas vezes esquecidas nas curvas do tempo...
Letras adiante, ele nos diz sobre a ansiedade; com a espetacularização
da violência e o medo injetado nas grandes cidades, e até nas pequenas, ela tem
funcionado como um regulador social, que restringe as possibilidades de estar efetivamente
na vida e vivê-la. Se enfurne, ponha mais trancas, tome o café em casa, a violência
está na rua, a morte na calçada.
“O ansioso sempre
está um medo à frente: ele verifica três vezes se fechou a porta, teme ser
seguido ou agredido, teme sempre – tanto para si como para seus próximos – a doença,
os acidentes, o infortúnio. Toma, contra o seu medo, um arsenal de precauções,
que só fazem aumentar o medo. Tem medo de sentir medo e se apavora com isso”.
Ainda que a solidão seja uma condição comum a todos nós,
há a tendência de confundi-la com o isolamento, e reduzi-la a um sentido
meramente soturno e negativo. Ai daquele que opta por ficar em casa numa sexta-feira à
noite, logo é digno de pena, está só, não tem ninguém.
“A solidão é nossa condição ordinária: não por termos
relações com os outros, mas porque essas relações não poderiam abolir nossa
solidão essencial, que decorre do fato de sermos os únicos a ser o que somos e
a viver o que vivemos. “Na medida em que somos sós, o amor e a morte se
aproximam”, escreve Rilke. Não é que não haja amor, ou que sejamos os únicos a
morrer; mas é que ninguém pode morrer ou amar em nosso lugar. Assim, o
isolamento é a exceção; a solidão, a regra. É o preço a pagar por ser si mesmo.”
Um dia uma menina de uns cinco anos me perguntou: O que é
ser Mulher? Pensei, pensei mas de
nada adiantou, às vezes, o que parece ser o mais simples e óbvio é o mais difícil de
explicar.
“Dirão que o que importa é a humanidade, não o sexo. Pode
ser. Mas tampouco é anedótico o fato de a humanidade ser sexuada. A diferença
sexual é, sem dúvida, uma das mais fortes, das mais constantes, das mais
estruturantes que há. No entanto, a diferença entre os dois sexos permanece
vaga e deve tanto ou mais à cultura, ao que tudo indica, do que à natureza. “Não
nascemos mulher”, dizia Simone de Beauvoir, “tornamo-nos mulher.” Sobre as diversas formas de acontecer mulher, ele conclui: “Uma pessoa nasce mulher ou homem, depois se torna o que é, de maneira mais ou menos feminina ou masculina, mas pouco importa esse devir, ainda que deva tudo à cultura, é um dos mais bonitos presentes que a humanidade deu a si mesma.”.
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