quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Autoajuda, ajuda?

Autoajuda, não necessariamente a sua. 
Em tempos de enxugamento de gastos, uma matéria fria, isto é, que não se trata de assunto imediato, sempre dá um up nos cadernos de cultura (cultura pero no mucho) dos jornais. Por esses dias a Folha ressuscitou uma matéria de janeiro deste ano, em que diz que a poesia é mais útil ao cérebro do que os milagrosos livros de autoajuda. Se sua cota mensal de matérias não tiver acabado, leia aqui

É verdade. Em instantes precisos da vida, as situações são mesmo desesperadoras. Angústias repentinas que nos algemam, parafusos soltos que ninguém vai rosquear, perguntas que nascem aparentemente do vazio, noites em que choramos, para amanhecer sorrindo, ou tentando.

Nestes dias turvos, para clarear, alguns leem autoajuda; muitas vezes em busca de respostas do tipo: Porque não sou magra? Ou rico? Hein, hein, porque não tenho sucessos na empresa? Ah, meu deus... porque diabos não tenho os homens aos meus pés?

Lembro-me de uma vez em que vi um homem e seu livro, a capa dizia: Como se tornar um milionário. Leia, siga o passo a passo, e embarque para a Suíça. É, por enquanto ainda não, ele vestia uma camisa surrada e estava no metrô...

Será que se existisse uma fórmula milagrosa para o sucesso, para uma vida plena e feliz, o casamento perfeito, a mulher dos sonhos? Será que se existisse a tal poção, seria traduzida e propagada aos quatro ventos, prontinha assim, só ir na saraiva e tá feita a sua parte? 

Acredito que não.

Nós, quem sabe, mas os autores de autoajuda não são bobos. Eles pesquisam, sacam você e fazem livros atraentes. Se já leu algum deles, com certeza se pegou agradecendo a deus: “Mas eu já tinha pensado nisso!”

Que dádiva! Você tem um livro amigo!

Não o que te diz as verdades sem fru-fru quando preciso, mas aquele das opiniões beges, que nunca aceita a cerveja de sexta-feira, mas que está sempre com um elogio na ponta da língua.

Na maioria das vezes, o sujeito ou sujeita cabisbaixo, vendo seu último suspiro como consolo, não tende a discordâncias, nem realidades duras.  Quer ser acarinhado, posto no colo, de preferência ouvindo um sonoro e acalentador: “Vai passar”.

A autoajuda vende rios por isso, diz tudo o que você já sabe. Está lá tudo o que você quer ouvir. O que precisa eu já não sei, é outra história.

Tape o sol com peneira, mas não há receitas, fórmulas, nem remédio para a dor que cure o que nos faz ser o que somos. Sangramos e sorrimos, caímos e levantamos, somos surrados e, quando podemos, devolvemos o golpe. A vida é isso, nós de sombrinha e pés atentos nos equilibrando nessa linha frágil.

Quando cachorros brigarem, se estraçalharem em seu coração, desabe nessa dor. Ela é sua, bem como as alegrias, não rejeite-a. Para que respostas imediatas, porque fazer espetáculo de seus baixos sem altos? 

Quem acha que o seu problema é exatamente o mesmo de 1 bilhão de pessoas, independente dos valores sociais, culturais e econômicos em que você está inserido, não merece sua leitura, quiçá suas tristezas e frustrações.

Tentar são as rodas da vida. Parece que não, mas há sempre outro dia.  Como diz Sérgio Vaz, quando o bicho pegar “não cultive multidões”.

Não cultive autoajuda.


Aproveitando o ensejo, separei os melhores títulos da categoria. Não há limites para o pior.

12 semanas para mudar uma vida – Augusto Cury
Projeto verão, hein, em dezembro tudo em riba! Corram!

201 maneiras de enlouquecer um homem na cama – Tina Robbins
Não é 199 nem 200, uma pechincha.

Ele simplesmente não está a fim de você – Greg Behrendt
E, claro, você precisa de um livro para saber.

Casamento blindado – Seu casamento à prova de divórcio – Cristiane e Renato Cardoso
Nem o tinhoso separa...

Você não está sozinho – Max Lucado
O título é criativo, mas não resolve a vida. Você nasceu só e assim morrerá, amigo.


Angelina Miranda é jornalista e escritora sem livros.
Ri alto, é fã de jabuticaba, cachorro, botecos e maus modos.
Dá uns pitacos pelo Feici e faz uns versos no Poesias Angelinas.

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