Autoajuda, não necessariamente a sua. |
É verdade. Em instantes precisos da vida, as situações são mesmo desesperadoras.
Angústias repentinas que nos algemam, parafusos soltos que ninguém vai
rosquear, perguntas que nascem aparentemente do vazio, noites em que choramos, para amanhecer sorrindo, ou tentando.
Nestes dias turvos, para clarear, alguns leem
autoajuda; muitas vezes em busca de respostas do tipo: Porque não sou magra? Ou
rico? Hein, hein, porque não tenho sucessos na empresa? Ah, meu deus... porque
diabos não tenho os homens aos meus pés?
Lembro-me de uma vez em que vi um homem e seu
livro, a capa dizia: Como se tornar um milionário. Leia, siga
o passo a passo, e embarque para a Suíça. É, por enquanto ainda não, ele vestia uma camisa surrada e estava no metrô...
Será que se existisse uma fórmula
milagrosa para o sucesso, para uma vida plena e feliz, o casamento perfeito, a
mulher dos sonhos? Será que se existisse a tal poção, seria traduzida e
propagada aos quatro ventos, prontinha assim, só ir na saraiva e tá feita a sua
parte?
Acredito que não.
Nós, quem sabe, mas os autores de autoajuda
não são bobos. Eles pesquisam, sacam você e fazem livros atraentes. Se já leu
algum deles, com certeza se pegou agradecendo a deus: “Mas eu já tinha pensado nisso!”
Que dádiva! Você tem um livro amigo!
Não o que te diz as verdades sem fru-fru quando preciso, mas
aquele das opiniões beges, que nunca aceita a cerveja de sexta-feira, mas que está
sempre com um elogio na ponta da língua.
Na maioria das vezes, o sujeito ou sujeita cabisbaixo,
vendo seu último suspiro como consolo, não tende a discordâncias, nem realidades
duras. Quer ser acarinhado, posto no colo, de preferência ouvindo um sonoro e
acalentador: “Vai passar”.
A autoajuda vende rios por isso, diz tudo o
que você já sabe. Está lá tudo o que você quer ouvir. O que precisa eu já não
sei, é outra história.
Tape o sol com peneira, mas não há receitas, fórmulas, nem remédio para a dor que cure o que nos
faz ser o que somos. Sangramos e sorrimos, caímos e levantamos, somos surrados
e, quando podemos, devolvemos o golpe. A vida é isso, nós de sombrinha e pés
atentos nos equilibrando nessa linha frágil.
Quando cachorros brigarem, se estraçalharem
em seu coração, desabe nessa dor. Ela é sua, bem como as alegrias, não
rejeite-a. Para que respostas imediatas, porque fazer espetáculo
de seus baixos sem altos?
Quem acha que o seu problema é exatamente o mesmo
de 1 bilhão de pessoas, independente dos valores sociais, culturais e
econômicos em que você está inserido, não merece sua leitura, quiçá suas
tristezas e frustrações.
Tentar são as rodas da vida. Parece que não,
mas há sempre outro dia. Como diz Sérgio
Vaz, quando o bicho pegar “não cultive multidões”.
Não cultive autoajuda.
Aproveitando o ensejo, separei os melhores
títulos da categoria. Não há limites para o pior.
12
semanas para mudar uma vida – Augusto Cury
Projeto
verão, hein, em dezembro tudo em riba! Corram!
201
maneiras de enlouquecer um homem na cama – Tina Robbins
Não é
199 nem 200, uma pechincha.
Ele
simplesmente não está a fim de você – Greg Behrendt
E,
claro, você precisa de um livro para saber.
Casamento
blindado – Seu casamento à prova de divórcio – Cristiane e Renato Cardoso
Nem o
tinhoso separa...
Você
não está sozinho – Max Lucado
O
título é criativo, mas não resolve a vida. Você nasceu só e assim morrerá, amigo.
Angelina Miranda é jornalista e escritora sem livros.
Ri alto, é fã de jabuticaba, cachorro, botecos e maus modos.
Dá uns pitacos pelo Feici e faz uns versos no Poesias Angelinas.
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