quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Pedras e urubus, os dias que te matei

Urubu do amor...
Andei pelas ruas achincalhando seu nome.

Contei seus segredos, como quem conversa na feira. Beijei bocas fétidas de palavras podres. Mas seus beiços-cigarro-café, jamais.

Contei a todos os seus defeitos. Sem efeitos, inventava mais alguns.

Joguei em suas costas o peso das pedras e urubus que o vento colocava em meu caminho. O mesmo vento que soprava a nosso favor.

Maldisse seus gostos e costumes. Seu jeito roceiro de viver na cidade, a simplicidade do vestir e falar. Amaldiçoei as cervejas divididas, os risos, as contas que não paguei, as histórias repetidas.

Os malditos garçons da praça Roosevelt sabiam de nós. Sabiam e nada disseram. Não me contaram do cliente de longa data. Dos olhos lascivos, das bundas passantes e penetradas.

Seus tiques de retardado. Insensibilidade, a falta de flor. Um homem que chora. Mas sem sangue e coração. O gozo crescido, o suspiro de menino.

Em comum acordo, jurei a deus e ao diabo, não mais te ver, nem deixar entrar seja por qual porta fosse.

De armadura e trabuco, cheguei. Espremi a campainha que nunca funcionou. Nada de mais, meus livros que esqueci. Já li, mas foram caros.

Sorriso sem dente. Olá e tudo bem, como manda o figurino.

Calor. Geladeira cheia. Educação. Cerveja de intenções. Sofá pequeno. Umas palavras soltas, um olhar preciso.

Um dia.

Dois dias.

Três dias.

Domingo. Pernas xadrez bordam o lençol. Conchas de gente dentro. Abraço e leite com canela.

Não se vive o que se fala. Floresce o que se sente.



Angelina Miranda é jornalista e escritora sem livros.
Ri alto, é fã de jabuticaba, cachorro, botecos e maus modos.
Dá uns pitacos pelo Feici e faz uns versos no Poesias Angelinas.

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