segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Cães libertados, viva o vandalismo

Foto tirada da página Adote um animal resgatado do Instituto Royal. 
"Finalmente aprendendo a viver como um cão."
Graças a vândalos e maloqueiros, 178 de cães da raça beagle foram resgatados semana passada do Instituto Royal, em São Roque, interior de São Paulo.

O caso, divulgado largamente, chamou a atenção pela ousadia e, também, pelo ineditismo da ação. Rapidamente, muitas pessoas se manifestaram, contra e a favor. Estou no segundo grupo.

Um dos que não viram com bons olhos o resgate foi o promotor de Meio Ambiente de São Roque, Wilson Velasco. Ele argumenta que a invasão pode ter prejudicado as investigações conduzidas pelo Ministério Público de São Paulo que recebeu denúncias de maus-tratos a cães.

Pois bem, estamos em outubro, as investigações estão sendo feitas desde o ano passado, 2012; parece que o processo está um pouco devagar.

Nesse sentido, os ativistas parecem que fizeram mais do que o MP. Está circulando nas redes sociais, Facebook e Twitter, fotos e relatos sobre o estado dos cães. Além dos traumas físicos, há os psicológicos. Muitos deles têm medo e dificuldade em se relacionar com humanos.

Ou seja, o que antes era suspeita, agora é certeza.

Os responsáveis serão autuados? Não. Muito pelo contrário, é o Instituto Royal que irá processar os ativistas. Mesmo com as evidências, não se discute nada disso. Dedica-se tempo para a velha lenga-lenga do vandalismo, nesse caso, priorizando objetos quebrados no lugar de vidas.

Comenta-se que os prejuízos são grandes, que os “terroristas” destruíram tudo. Que o pobre Instituto Royal contribui muito para o desenvolvimento de medicamentos para humanos, e que o uso de animais em testes é necessário.

Mas, como se sabe, a verdade não é absoluta.

Em entrevista à TV Brasil, a professora de medicina da Universidade Federal do ABC, Odete Miranda, afirmou que sim, que é possível fazer testes sem o uso de animais.

– Existe pele sintética, existem testes in vitro, toxidade em célula em hemácias, é possível sim.

Mas, talvez, usar animais saia mais barato do que investir nessas tecnologias, então suponho que o Instituto tenha economizado bastante. Se o problema é dinheiro, separem as economias e comprem de novo o que foi quebrado.  

Aposto que vai ter até gente querendo ajudar, o Reinaldo Azevedo da Veja seria um deles. Domingo mesmo ele nos brindou com sua inteligência em um texto primoroso intitulando os ativistas de “grupelhos obscurantistas”, e justificando os maus-tratos porque o especismo existe e a vida é assim mesmo, “E uma imposição da nossa civilização”.

Retomando, sobre os protestos a maioria dos direitos que desfrutamos hoje não foi conquistado com flores e afagos, mas sim com luta, com embate. Essa é uma realidade, a pressão popular é o que surte efeito. Vide os 0, 20 centavos que fizeram Alckmin e Haddad mudarem, assim de repente, de posicionamento.

Com flores e afagos os protetores não resgatariam nem meio cachorro. Invadiram, sim, quebraram, sim, para fazer o que tinha que ser feito. Mais do que nunca os fins justificam os meios. 



Angelina Miranda é jornalista e escritora sem livros.
Ri alto, é fã de fotografia, cachorro, botecos e maus modos.
Dá uns pitacos pelo Feici e faz uns versos no Poesias Angelinas.

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